Um de meus filhos, Antonio Carlos, sugeriu-me escrever algumas lembranças que tenho de nossas famílias e de minha própria vida, já entrada em anos, para que meus descendentes que se interessarem tenham algumas idéias do que vivi no passado.
Sou filho de um Oficial do Exercito, Hoche Pulcherio, nascido em Corumbá, Mato Grosso, na década de 1890, filho de Benedito Pulcherio e Luiza Serra Pulcherio, sua prima.
Aos 3 anos de idade meu pai veio com meu avô, funcionário da Alfandega, para residir no Rio de Janeiro, em viagem pelo Rio da Prata já que não havia estradas para Mato Grosso naquela época, apenas rudes caminhos.
Interessante que quando fui como Aspirante a Oficial para Campo Grande em 1952, fui de trem ainda fugindo de maus caminhos. A alternativa seria o avião.
O trem descarrilhou no meio dos matos, acabou a comida e nós os passageiros tivemos que botar a locomotiva nos trilhos a braço...
A família paterna era composta pelo avô, por minha bisavó, também Luiza, que havia se casado aos 13 anos, minha avó, sua filha, que se casara aos 15 e os filhos Nelson, Hoche, Homero, Cauby, Heraclito e Neverita. Uma das irmãs de meu pai, Iracema, falecera ainda criança.
O avô passou a trabalhar no Rio onde faleceu. Não o conheci. Pelo contrario conheci bem a bisavó e a avó pois se casaram muito cedo. A bisavó, extremamente enérgica, tinha a interessante característica de não admitir empregada domestica. Cheguei a ve-la com mais de 80 anos lavando as escadas da casa de 3 andares. Ainda hoje tenho na memoria o gosto de seu feijão e seus pasteis... (se é que existem lembranças gustativas...)
Velha saudável, morreu de uma topada no dedão do pé que gangrenou, quando eu tinha 13 anos.
Minha avó, muito afetuosa, tranquila, faleceu quando eu já tinha 18 anos, em 1948.
Meu pai era funcionário do Banco do Brasil quando decidiu matricular-se na Escola Militar do Realengo, onde o Nelson já era aluno de Infantaria, tendo sido declarado Aspirante de Artilharia em janeiro de 1922, sendo o oitavo de sua classe e classificado no Grupo de Macaé. De sua turma faziam parte cadetes que mais tarde se tornariam políticos famosos como João Alberto e Filinto Müller.
Dos outros filhos, Nelson ficou viúvo muito cedo, deixando um filho, Dylson que foi criado por minhas avós, já falecido. Nelson casou-se ainda com uma paraguaia, excelente moça, mas que por sua nacionalidade não era muito bem vista pelas avós, devido a invasão de Corumbá pelos paraguaios. Faleceu ainda Ten Cel em 1947.