Hoche Luiz Pulcherio

Titulo



As duas ultimas nasceram respectivamente no Alegrete e em Juiz de Fora. Os 3 primeiros no RJ.

M Zita casou-se com José Alexandre Teixeira de Melo, Marilu com Edson Conde Miranda e Lygia com o americano Roland Enos tendo falecido sem filhos nos EUA.

Deixei Sta Tereza quando meu pai foi transferido para o Alegrete, no RS, classificado na 2ª Divisão de Cavalaria, após concluir o curso de Estado Maior ainda Capitão.

Eu também fui classificado, a pedido, na 2ª DC ao terminar meu curso de EM. Lá tive o grande prazer, para um filho,  de montar com a espada de meu pai na sela, em diversas formaturas. Essa foi uma das homenagens que lhe pude prestar, embora póstuma.

Outra, adiantando um pouco, foi quando dei uma aula na Escola de Artilharia Antiaérea para os Capitães alunos da Escola de Aperfeiçoamento e o convidei para assistir. Fui feliz nessa apresentação sendo cumprimentado pelos Capitães. Meu pai ficou entusiasmado e chegando em casa na Vila Militar, sem saber que eu já estava presente, disse para minha mãe: “Mariazinha esse guri vai longe!” Minha mãe disse “o guri já está aí te ouvindo...” O guri estava em outra sala satisfeitíssimo por ter prestado essa homenagem a um pai que amava e admirava muito desde pequeno.

A viagem ao Rio Grande foi a primeira vez que viajei de navio, até Porto Alegre. Nessa cidade fomos passear de taxi. Uma das portas se abriu e minha irmã mais velha caiu no paralelepípedo em alta velocidade, sem sofrer um arranhão. Foi aquele susto!
De Porto Alegre para o Alegrete fomos de trem.

Lembro-me razoavelmente do Alegrete dos meus 5 anos em 1935. Casa grande, enorme quintal onde o ordenança botava os cavalos que iam buscar meu pai para o trabalho e eu aproveitava para dar uma montadinha...

Havia enorme pereira e campos infindos na parte de tras do terreno. A sala de jantar da casa abria para um pátio de pedras do mesmo nível, onde havia quatro parreiras de uvas de diferentes qualidades e um poço no centro. Após as refeições por vezes íamos colher uvas no pé.

Nesta casa nasceu minha irmã Lygia que faleceria nos EUA.

Lembro-me da família ajoelhada na sala com minha mãe puxando orações para meu pai ser transferido para mais perto de minha avó. Orações atendidas, meu pai foi transferido para o Gab do Ministro do Exercito em junho de 1936.

Lá também não se demorou devido a saída do titular. Fomos em seguida para  Juiz de Fora, onde permanecemos também pouco tempo, apenas até fevereiro de 1938 e de lá para a Fortaleza de S João onde aprendi a nadar e reforcei a vontade de ser militar olhando as evoluções e a educação física.

Posteriormente morei em Botafogo de 39 a 41, na rua Conde de Irajá e na S.Clemente, sendo aluno de pequeno colégio onde se devia falar francês durante o recreio. Após fui aluno de severa professora, D. Antonieta, em preparação para o exame de admissão ao Colegio Sto Ignacio em que cursei o 1º  ano ginasial, até a transferência de meu pai para Salvador, no inicio de 1942.

Já era major e serviu inicialmente  no QG da 6ª RM sendo em seguida  Secretario de Segurança do Estado até 1944.

Deixou a Secretaria por ter aparecido na cidade um bicheiro que lhe ofereceu uma fortuna apenas para não deixar a policia interferir no jogo.

Exemplo marcante de honestidade, pediu para voltar para o Exercito desprezando espúria riqueza e deixando essa lembrança de correção para seus filhos. Eu, particularmente, sempre tive muito orgulho e admiração pelo pai e pelo Oficial do Exercito que ele foi.

Em Salvador eu, dos 12 aos 14 anos, novamente aluno dos Jesuitas para o 2º e 3º ginasiais, tive uma vida maravilhosa.

Muitos amigos, especialmente um cujo pai possuía casas na cidade, na cidade baixa e na ilha de Itaparica e que me convidava muito para passar dias e férias nelas.

Lembrança também da primeira namorada, Eva Elvira, filha de um oficial de Marinha. Transferido para o Rio levou a filha para grande tristeza do garoto saudoso.

Como estava rolando a 2ª Guerra havia muitos navios de guerra americanos ancorados no porto e eu ficava vendo os marinheiros passeando na cidade em suas folgas, falando uma língua que eu não entendia. Veio daí minha decisão de aprender inglês.

Um de meus amigos, gaúcho, Zilon, passeava muito comigo de bicicleta pela cidade. Faziamos loucuras no transito. Hoje são os motociclistas que me lembram desse tempo.

Quando voltei para o Rio, em 1944, perdi contacto com o Zilon. Acabei encontrando-o na Vila Militar, soldado paraquedista.

Anos mais tarde era instrutor de voo quando caiu com um aluno e morreram..

Minha casa, ao lado do colégio  onde estudava, tinha enorme terreno, matoso, com dezenas de mangueiras. Lá eu exercitava minha pontaria com um rifle 22. A munição era farta e barata. Esse 22 eu levava para Itaparica e era um sucesso.

Em certa ocasião fomos visitar uma fazenda em Camaçari e passei o dia inteiro a cavalo. Grande passeio!

Voltando para o Rio de Janeiro fomos morar na Av Rainha Elizabeth, esquina da Vieira Souto e voltei ao Sto Ignacio para o 4º ginasial e o 1º cientifico.

Maravilha de praia! Muita natação e jacarés.

Em certo domingo  de praia cheia o mar estava de ressaca e eu fui atrevidamente pegar jacarés. Mas nada de boa onda. Eu estava sozinho no mar quando entrou um amigo, grande nadador, o Careca, que me disse “Hoche vamos sair dessa gulosa.” Grande susto, verifiquei como é verdade que o afogado se agarra em qualquer coisa. Passei a mão fazendo grande esforço para não fecha-la desde a cabeça até o pé do Careca. Saimos juntos e havia uma multidão na praia esperando para me dar uma surra de areia, mimo reservado aos que se afogavam, o que felizmente não era o caso pois eu também nadava muito.

Lembro-me que o Careca gostava de se afastar muito da praia, até um ponto em que mal se via sua cabeça.

Nessa época também outro susto: após uma pelada em forte verão corremos para mergulhar no mar gelado. Um dos companheiros ficou de bruços na água, morto. Nunca mais mergulhei de uma vez...

Peladas de futebol na areia nos fins de semana e na praça Gen Osorio durante a semana até adiantada a noite! Um vidão! Tambem viajava bastante com meus primos Gabriel e Djalma para Teresopolis e Correas.

Em Teresopolis no Week End Club havia muitos alemães e me lembro de uma moça que passeava num cavalo com a suástica desenhada na garupa... Isso em plena guerra! Havia uma senhora que descobriu que eu jogava xadrez e sempre me convidava.

Em Correas, com o Djalma, fazíamos competições de tiro de 22 e não me orgulho de termos dizimado muitos  passarinhos, para desespero da cozinheira que tinha que depena-los e cozinha-los.  Pecados da adolescência...

Nessa época a FEB já combatia na Italia e meu pai foi passar 6 meses na Escola de Estado Maior dos EUA para adaptação aos métodos americanos. A Escola era a mesma onde anos mais tarde fui trabalhar, no Fort Leavenworth. Após a adaptação ele seguiria para a FEB mas ao regressar ao Brasil a guerra terminou.

Passamos 1944 e 45 no Rio e em seguida meu pai foi comandar um grupo de Artilharia de Dorso em Olinda, Pe. Como o grupo tinha cavalos e morávamos em casa dentro do quartel, para mim foi beleza. Pena que mais tarde foi motorizado e fiquei a pé...

A cidade próxima a Olinda chamava-se Paulista e tivera praticamente um dono, o sueco Frederico Lundgren, dono das Casas Pernambucanas, de cavalos de corrida e de galos de briga. Lá conheci o cavalo Mossoró que era famoso por ter ganho o primeiro Grande Premio Brasil. Tinha a minha idade, 17 anos, e um cercado enorme.

Durante a guerra diziam que o sueco era alemão e tentaram atacar a fabrica. Daí o quartel botou uma patrulha permanente na cidade, chefiada por um sargento. Essa chefia era uma briga pois o chefe ficava gordinho devido a alimentação saborosa que lhe forneciam...

As más línguas afirmavam que o velho passava o dia inteiro na rede, com uma mulher e bebendo Scotch, saindo apenas para ver um cavalo ou um galo de briga. Não sei se é verdade mas certa vez passava eu com o administrador da fabrica pela cidade quando vi se aproximar duas bicicletas de alto luxo, tripuladas por duas moças quase negras e de olhos azuis. Espantado perguntei o que era aquilo. Disse-me o rapaz: são filhas do velho e cada uma está valendo 21 mil contos que o falecido pai deixou, em dinheiro, para cada um dos 20 filhos. Não era racista e esse negocio de côr é bobagem...

Em PE tive uma namorada que havia sido miss PE. Tinha um nome horroroso, Terpandera, mas era muito bonita.

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